Otavio Dias
4 min readMay 24, 2020

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Repense sua atitude no "mundo corporativo": reclame menos e colabore mais.

O “mundo corporativo” no Brasil possui um ambiente de negócios extremamente difícil: altas cargas tributárias (entre as maiores do mundo), uma das maiores cargas trabalhistas do mundo e constante instabilidade política e econômica. Ainda assim, é altamente criativo, resiliente e, normalmente, só desiste quando realmente não tem mais opção.

Gera empregos, movimenta a economia, investe em pesquisa e desenvolvimento, apoia startups, apoia organizações não governamentais, viabiliza investimentos sociais e culturais e, principalmente, garante o sustento de milhões de famílias através da remuneração dos seus colaboradores.

No entanto, é cada vez mais comum vermos profissionais que fizeram suas carreiras (ou negócios) atuando (ou prestando serviços) para as empresas falando super muito mal do tal “mundo corporativo”.

Acho isto nocivo: pois as empresas – de todos os portes e perfis – são a mola propulsora da geração de riqueza do Brasil. E, se existem empresas equivocadas em qualquer aspecto, você pode ter certeza que existe um número muito maior delas fazendo das tripas coração para seguir em frente de forma ética.

Por isto, insisto que não se pode generalizar, existem empresas com posturas questionáveis, mas existe uma maioria de empresas corretas, com retidão em suas atitudes e valores.

Não sou alienado, conservador ou resistente ao novo, Tão pouco um capitalista selvagem que não reconhece que temos muito a melhorar em nossos negócios.

Muito pelo contrário, sempre acreditei que carreiras e negócios devem ser constantemente desafiados e repensados.

Mas a postura radical, agressiva, arrogante e perniciosa junto às empresas me parece equivocada, pois a estas pessoas que tanto as criticam dependem delas e construíram (e muitas ainda constroem) suas vidas, carreiras e negócios nestas mesmas empresas que tanto debocham ou criticam.

Muitos empreendedores – arrisco dizer que a grande maioria (exceção para herdeiros) – só conseguiram empreender porque um dia passaram por outras empresas onde aprenderam, amadureceram intelectualmente e/ou cresceram financeiramente para conseguirem dar este passo.

Afinal, diferente dos Estados Unidos, cujas universidades de primeira linha como Standford, Harvard ou Yale são celeiros de startups disruptivas, no Brasil, contamos nos dedos os casos de jovens que deram um grande passo empreendedor sem antes ter passado por alguma grande corporação.

É claro que não existem empresas perfeitas. Assim como não existem profissionais infalíveis. Mas tudo tem sempre dois lados e, por isto, as pessoas não podem se isentar das suas responsabilidades em serem mais ou menos felizes ou realizadas nas empresas onde trabalham – ou mais ou menos co-responsáveis em realizar as mudanças que tanto acreditam, especialmente as pessoas que ocuparam cargos de liderança.

/Antes de criticar, repense: você teve coragem e bons argumentos para se posicionar sobre as transformações que desejava realizar na empresa por onde passou?/

/Antes de criticar, repense: você realmente conseguiria fazer melhor ou diferente se tivesse num cargo de liderança com poder de decisão irrestrito?/

/Antes de criticar, repense: você tem consciência de que estar ou não estar num lugar com o qual não se identifica culturalmente é escolha sua e de mais ninguém?/

/Antes de criticar, repense: você consegue perceber que qualquer empresa traz a essência dos seus valores, normalmente espelhados na sua cultura organizacional e que, quando você chega, cabe a você se integrar e adequar a esta cultura e não o contrário?/

/Antes de criticar, repense: você realmente fez a diferença técnica e relacional na posição que ocupa ou ocupou nas empresas por onde passou? Consegue enxergar que se tivesse feito a diferença muito provavelmente teria influenciado muitos aspectos da empresa?/

/Antes de criticar, repense: você tinha ou tem todas as informações – das diferentes áreas e instâncias do negócio – para realmente ter uma visão crítica completa sobre a empresa que atua?/

/Antes de criticar, repense: será que os desafios e problemas que você tanto crítica ou criticou não se repetirão em outras empresas ou até no seu próprio negócio?/

/Antes de criticar, repense: independente das discordâncias ou dos problemas que você teve nas empresas por onde passou, você é o que é HOJE justamente por ter passado por cada uma destas experiências?/

/Antes de criticar, repense: você tem real noção dos desafios de ser um empreendedor — micro, pequeno, médio ou grande — no Brasil? Se não, pesquise um pouco mais sobre este assunto e você rapidamente terá uma nova visão e postura./

Com meus clientes e com o meu próprio negócio aprendi como é importante sair da posição de “crítico de plantão” ou “engenheiro de obra pronta” para a posição de respeito, humildade e empatia: reconhecendo, aprendendo e absorvendo as pequenas e grandes lições que a maioria dos executivos, líderes e empresários dos mais diversos segmentos tem a nos ensinar.

Ao invés de sair dos seus encontros e reuniões com espírito de reclamação ou com alguma "crítica afiada", tente sempre sair com algum aprendizado. Afinal, não existem empresas, lideranças ou equipes absolutamente perfeitas, mas todos certamente têm algo relevante para ensinar.

Cobre as empresas, os governos as lideranças. Mas cobre igualmente de si mesmo.

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Otavio Dias

Sou empreendedor do mercado de comunicação. Minha primeira agência foi a Zest, vendida para Grey/WPP. Minha agência atual é a REPENSE (repense.com.br).