NOVOS OLHARES PARA 2021

Otavio Dias
5 min readFeb 19, 2021

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O filósofo e pensador chinês Confúcio dizia “se queres prever o futuro, estuda o passado”. O ano que começou, sem dúvida alguma, continuará sendo desafiador, mas olhar além do que se vê e avançar é fundamental para qualquer empresa ou marca.

O mundo pós-covid-19 não será mais o mesmo e a expressão “nada será como antes” não é, necessariamente, uma afirmação trágica. Algumas certezas já estão se alinhando e, junto com elas, chega uma onda de regeneração que — dentre tantas coisas — pressupõe um engajamento mais empático e autêntico com as pessoas.

Um talk realizado entre a REPENSE e nossa grande parceira Andrea Bisker — CEO da Stylus Brasil, plataforma global de tendências e da SparkOff, consultoria de inovação e tendências — nos trouxe insights para que a agência e nossos clientes possam dar passos mais acertados nas estratégias para 2021.

Neste exercício de “olhar para o futuro”, trago aqui alguns dos direcionamentos apresentados, todos muito oportunos e relevantes:

1. Verdadeiro compromisso com as minorias

No estudo “Efeitos da pandemia sobre o mercado de trabalho brasileiro” divulgado pelo FGV Social (Centro de Políticas Sociais da Fundação Getulio Vargas), a desigualdade de renda no Brasil bateu recorde em 2020. O país é o 7° mais desigual do mundo e os três principais motivos são: o racismo, a questão de gênero e a tributação de impostos.

Com estes dados, era de se esperar que uma das tendências (que já deveria ser um real desejo de toda e qualquer marca contemporânea) é dar atenção aos desfavorecidos e amplificar as vozes destes grupos. O significado de diversidade nada mais é do que representar a sociedade em que vivemos. Somos compostos por pessoas de diferentes histórias, crenças, raças e etnias, orientações sexuais e gêneros. Então, diversidade não pode ser apenas mais uma palavra para ser usada pelas empresas, mas sim um imperativo moral dentro de suas estratégias de comunicação e relacionamento. Afinal, todos precisam se sentir representados.

2. Consumo consciente como premissa

O Ministério do Meio Ambiente soou o alarme de que já consumimos mais de 30% de recursos do que a capacidade de renovação da Terra. Diminuir este ritmo é fundamental para atender nossas necessidades de água, energia e alimentos.

Os hábitos de consumo são ferramentas de transformação da sociedade e a Stylus nos trouxe a informação de que 73% dos consumidores estão preparados para mudar o estilo de vida para ajudar o meio ambiente. Do lado das marcas, já vemos excelentes cases como a Vans, a Lush e a Yvy buscando soluções plausíveis para diminuir seus impactos no Planeta.

Posicionar-se a favor do meio ambiente e demonstrar de forma transparente as suas políticas ambientais atuais — e claros compromissos futuros — se tornou agora uma necessidade para toda empresa. Na REPENSE, sempre levamos adiante a ideia de contribuir para melhorar o mundo em que vivemos e a vida das pessoas. Ser uma empresa verde não é mais um diferencial, mas premissa para sobrevivência, tanto pelo desejo dos consumidores, como pelas políticas cada vez mais rígidas e restritivas que continuarão se espalhando pelos diferentes cantos do mundo.

3. Tecnologia na saúde é essencial

Mais do que nunca, a tecnologia vem funcionando como um verdadeiro salva-vidas na área de saúde.

Dentre as muitas novidades deste setor, destaca-se o biohacking — gerenciamento da própria biologia por meio de tecnologias nutricionais, eletrônicas ou médicas, cuja ideia central é fornecer programas de bem-estar personalizados em que a estrutura molecular é analisada para entender qual função corporal necessita de mais suporte. Com isso, é possível ter mais controle e autonomia sobre o organismo para manipular o corpo de forma mais e mais preventiva e, assim, conduzir da melhor forma a própria saúde.

O biohacking é uma indústria que está estimada para valer US$ 6,6 bilhões em 2025. Nem é necessário reavaliar prioridades para saber a importância deste tema para otimizar a saúde e aumentar a disposição ao mesmo tempo em que se pode alcançar altos níveis de produtividade. Esta é uma aposta para o futuro em que todas as partes ganham.

Independentemente da sua área de atuação, perceber a importância que as Healhtechs ganharão nos próximos anos (assim como as Fintechs ganharam nos últimos anos) pode abrir oportunidades de negócios, conteúdos, serviços e parcerias estratégicas de grande relevância para o seu negócio e, principalmente, para os seus clientes.

4. Foco na solidariedade

Sempre que acontece uma crise ou uma grande mudança é hora de analisar o que é importante de verdade. Em breve, novas ideias pós-pandemia já vão começar a se alinhar e é esperado que comecemos a cumprir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU (https://brasil.un.org/pt-br/sdgs) — o apelo global para acabar com a pobreza, proteger o meio ambiente e o clima e garantir que as pessoas, em todos os lugares, possam desfrutar de paz e de prosperidade.

Dessa forma, as empresas vão precisar revolucionar suas cadeias de suprimentos — que já se mostrou frágil — e o ciclo de vida dos produtos para garantir a retenção do valor dos recursos. Como resultado, o design regenerativo vai se tornar uma preocupação central em todos os setores.

Sabemos que os consumidores já se mostram preocupados com a escassez de recursos e a fragilidade ambiental devido a forma como os produtos são consumidos, uma atitude positiva porque reforça a necessidade na mudança de hábitos. Com mais consciência há uma maior percepção do impacto que nossas escolhas causam no mundo. Este reequilíbrio entre a natureza, os seres humanos e a compreensão com o próximo nos torna mais solidários.

5. Novas perspectivas, a partir da Indústria do Entretenimento

Amplificar vozes radicais é o principal tom comercial para a mídia e o entretenimento em 2021. Aqui, novamente falamos em dar espaço para a inclusão e se abrir para o novo. Como exemplos, podemos citar os ativistas do clima, as identidades sub-representadas ou estereotipadas nas artes em geral.

Uma das popstars que já estão fazendo a diferença neste sentido é a cantora Beyoncé, que criou uma obra vanguardista e de reparação histórica quando lançou o filme musical e álbum visual “Black is King”.

Um outro bom exemplo é o seriado “I May Destoy You” (HBO), que traz representatividade negra e fala sobre relacionamentos tóxicos. Temos também cantora Cardi B, a primeira artista solo mulher a ganhar o prêmio de Melhor Álbum de Rap. A própria Academia do Grammy anunciou um projeto que propõe a maior participação de profissionais femininas na indústria da música.

Ver estas novas perspectivas nos permite ter uma visão inédita para a diversidade, a representatividade e o empoderamento na indústria do entretenimento e, principalmente, a possibilidade de trazer estes bons exemplos para nossos negócios e vidas.

É preciso consciência de que, além da impressionante aceleração digital que a pandemia trouxe, existem transformações ainda mais profundas sobre as quais nós, empresários e profissionais de comunicação, precisamos refletir e, sobretudo, agir.

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Otavio Dias

Sou empreendedor do mercado de comunicação. Minha primeira agência foi a Zest, vendida para Grey/WPP. Minha agência atual é a REPENSE (repense.com.br).