Otavio Dias
5 min readMar 27, 2020

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Otavio Dias, CEO da REPENSE, empreendedor desde sempre.

Empreendedorismo & Coronavírus

Ser empreendedor é saber conviver com a ansiedade, pois todos nós temos altos e baixos, anos bons, anos ótimos, mas também anos ruins. Em especial nos momentos de crise, não basta ter “tino empreendedor” ou “excelente formação acadêmica”, é preciso ter equilíbrio emocional e grande capacidade de ação, reação e adaptação.

No Brasil, já estamos acostumados com a montanha russa em que vivemos. Além das altas cargas tributárias e encargos trabalhistas pesados, vivemos numa instabilidade política e econômica recorrentes. Esta é a nossa realidade há décadas e dificilmente será diferente daqui pra frente.

Mesmo cientes disto, a verdade é que nós, empresários, entramos no governo atual com muitas dúvidas, mas com a percepção de que “na economia”, em especial, teríamos uma melhora significativa. E, de fato, neste primeiro ano chegamos a ver uma luz no fim do túnel.

O governo articulou e aprovou a Reforma da Previdência, um mal necessário que há anos é um dos imbróglios do país. Sem cortar na "própria carne" e "desidratada" pelo congresso, a reforma deixou uma economia menor do que a prevista. Mas, ainda assim, foi a principal vitória do ano para a administração federal, junto com a aprovação da Lei da Liberdade Econômica, que reduz a burocracia no desenvolvimento das atividades econômicas, especialmente de micro e pequenas empresas.

A redução no desemprego — comparando o primeiro trimestre de 2020 com o de 2019 — foi muito pequena, mas existiu (11,2% X 12%). Além disto, o governo fez movimentos de aproximação com os Estados Unidos, Israel, Pequim e União Europeia, tentando atrair investimentos internacionais, com alguns avanços. Mas tudo no país, infelizmente, tem sido muito prejudicado pela constante instabilidade política e declarações “polêmicas” que repercutem muito mal interna e internacionalmente.

Parecíamos ter evoluído, mesmo que pouco. Mas 2020 já começou turbulento. Motivada por fatores internos e externos, a escalada do dólar no primeiro trimestre do ano assustou o mercado financeiro e, no início de março, todos nos frustramos com a notícia do crescimento pífio de apenas 1,1% do PIB de 2019, afinal, no dia 1º de janeiro, as estimativas das consultorias e instituições financeiras apontavam um avanço de 2,53%.

Poucos dias antes, no dia 26 de Fevereiro, já havia sido anunciado o primeiro caso de Corona Vírus no Brasil e no dia 13 de Março a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou estarmos vivendo uma Pandemia, impactando ainda mais rápida e fortemente todos os mercados globais. Até aquela data, a organização já havia registrado
118 mil infeções, em 114 nações e com 4.291 mortes acumuladas.

Este cenário fez o dólar no Brasil ultrapassar os R$ 5,00 e causou enorme impacto no Ibovespa, o principal índice da B3, com a maior queda entre indicadores semelhantes das principais bolsas do mundo. Sua retração chegou a 42% (em 20/3) e as empresas listadas na bolsa paulista perderam R$ 1,746 trilhão em valor de mercado no período.

Apesar de algumas opiniões contrárias à quarentena e ao fechamento mandatório de muitos negócios, as medidas se tornaram inevitáveis para a maioria das empresas e, provavelmente, perdurará pelo menos por algumas semanas ou meses.

E não é preciso entender muito de finanças para saber que para pequenas e médias empresas, como lojas, bares, restaurantes, casas noturnas (só para citar alguns exemplos), uma quinzena sem faturar pode representar a quebra do negócio, pois em categorias como essas, o capital de giro vem do faturamento da quinzena imediatamente anterior.

Para a economia informal, o baque é ainda maior. Vendedores ambulantes, consultoras de beleza, cabeleireiros, diaristas, dentre tantos outros profissionais que vivem da receita do dia a dia, de uma hora para outra tiveram que parar completamente suas atividades.

Sem muitos dos pequenos e médios negócios e sem a economia informal girando, os meios de pagamento passam a ser menos utilizados e, assim, toda uma cadeia de negócios — interdependentes — é afetada. Esta mesma lógica vale para muitos setores.

Esta crise impactará empresas de todos os segmentos, afinal, além dos desafios internos do país, somos também abalados pela crise dos países com os quais mantemos estreita relação e dependência comercial.

Economistas no mundo todo já estão prevendo uma recessão nestes próximos meses ou anos. E, mais uma vez, nós, empreendedores, temos que tirar forças — sabe-se lá de onde — para não esmorecermos, desanimarmos, deprimirmos ou desistirmos dos nossos negócios.

Apesar da angústia que este momento traz, é fundamental mantermos a calma, seguirmos à risca as recomendações da OMS e do Ministério da Saúde (preservando as vidas em primeiro lugar) e termos também algum otimismo e muita dedicação, substituindo o sentimento de reclamação e lamentação pela ação e inovação:, repensando com pragmatismo e agilidade o futuro dos nossos negócios.

Se o boom tecnológico dos últimos anos já havia exigido uma completa reinvenção dos negócios, o Coronavírus veio dar mais um empurrão nos empresários de todos os setores: trabalho remoto, e-commerce, delivery, mídias digitais, novos aplicativos, reavaliação do jeito de trabalhar, ajustes na carga horária de trabalho, são alguns exemplos de mudanças que podem ser priorizadas. A verdade é que todos podemos (e devemos) nos repensar sempre.

Como empresários, faremos tudo que estiver ao nosso alcance para conseguirmos manter os nossos negócios e, assim, seguirmos dando suporte à cadeia de clientes, parceiros, fornecedores e colaboradores, que nos ajudam a produzir e a gerar receita e rentabilidade para os negócios — e também renda para os seus lares. Precisamos ter consciência da gravidade do que estamos vivendo, trazendo flexibilidade e criatividade para nossos negócios e empatia e compaixão para entender, apoiar e confortar as dores das pessoas que nos cercam.

Diferente da crise global de 2008, na crise atual a grande maioria dos governos estão dando maior apoio à economia, injetando dinheiro e implementando medidas diversas de suporte e subsídio às empresas. Nos Estados Unidos, o Senado já aprovou projeto de lei que concede bilhões de dólares para limitar os danos da pandemia de coronavírus por meio de testes gratuitos, licença médica remunerada e aumento dos gastos com rede de segurança. No Brasil, o governo já anunciou flexibilização de alguns pontos das Leis Trabalhistas, além de renda mínima para microempresários e trabalhadores informais.

No meu negócio, nosso lema neste momento tem sido a máxima pro atividade junto aos clientes. Não mediremos esforços para sermos um parceiro próximo e estratégico, ajudando-os a encontrar os melhores caminhos estratégicos para a comunicação de suas marcas, e também as soluções táticas mais sensatas que viabilizem cada ideia aprovada. Felizmente, temos relações muito boas com clientes e uma equipe muito engajada que está se dedicando de corpo e alma para atravessarmos este momento fazendo a diferença para o negócio dos nossos clientes.

Aos leitores empreendedores como eu, sugiro que troquem experiência com outros empreendedores e aproveitem este momento para ouvir mais e melhor: seu time, seus clientes, seus parceiros e até os seus concorrentes.

Não se esqueçam também que muitas transformações e inovações que usufruímos hoje nas nossas empresas e nas nossas vidas pessoais surgiram em tempos de guerra ou crise. Quem sabe não tenha chegado a hora de você fazer as mudanças que o seu negócio já vinha pedindo?

Tudo passa. Esta crise também passará, mas o mundo muito provavelmente não será o mesmo depois do Coronavírus. Que tenhamos grandeza e humildade para aprendermos tudo que tivermos que aprender, nos preparando para um novo ciclo de crescimento, amadurecimento e maior consciência das nossas equipes, empresas e, principalmente, de nós mesmos.

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Otavio Dias

Sou empreendedor do mercado de comunicação. Minha primeira agência foi a Zest, vendida para Grey/WPP. Minha agência atual é a REPENSE (repense.com.br).